quinta-feira, 28 de outubro de 2010

Fugindo




O pouco que os animais, inclusive os mais desenvolvidos, têm que comunicar uns aos outros pode ser transmitido sem o concurso da palavra articulada. Nenhum animal em estado selvagem sente-se prejudicado por sua incapacidade de falar ou de compreender a linguagem humana. Mas a situação muda por completo quando observamos os animais domesticados, ou em particular, a relação entre humano e humano.


Seria possível compreender sem as palavras? Seriam as respostas imprescindíveis para o entendimento do ser? Ou As respostas sempre nos é dada quando aprendemos a perguntar ou interpretar?


Palavras são insuficientes, mas é o único meio que encontro para externalizar o que eu não sei. Mas, muitas vezes, as palavras sustentam um peso gigante sobre o que não se pode controlar, ainda que não seja intencional.

Eu não sei sonhar


No sim, existe um não
No céu, existe um chão
Vencer também traz perdas

Sentir pode doer
Sorrir pode esconder
Viver tem suas mortes


Aceito os meios
Pra alcançar o fim

Piso as duras pedras pra entrar no mar, Mas a calma da água ao beijar a minha sede pela paz
Me eleva

terça-feira, 26 de outubro de 2010

Ante o direito da crítica, o dever de superação.





Começa cada dia por dizer a ti próprio: hoje vou deparar com a intromissão,a ingratidão, a insolência, a deslealdade, a má-vontade e o egoísmo - todos devidos à ignorância por parte do ofensor sobre o que é o bem e o mal.


Mas,pela minha parte, já há muito percebi a natureza do bem e a sua nobreza, a natureza do mal e a sua mesquinhez, e também a natureza do próprio culpado, que é meu irmão (não no sentido físico, mas como meu semelhante, igualmente dotado de razão e de uma parcela do divino); portanto nenhuma destas coisas me ofende, porque ninguém pode envolver-me naquilo que é degradante, senão eu mesmo.


Nunca se protele o ato de questionamento quando se é jovem, nem canse o fazê-lo quando se é velho, pois que ninguém é jamais pouco maduro nem demasiado maduro para conquistar a saúde da alma. E quem diz que a hora de filosofar ainda não chegou ou já passou assemelha-se ao que diz que ainda não chegou ou já passou a hora de ser feliz.


Somos seres sedentos pelo crescimento, em constante e intermináveis mutações. Deixemo-nos vir, então, o tempo de mudanças...

segunda-feira, 25 de outubro de 2010

Fugindo das respostas



Conversando com um amigo pirata e cheguei a seguinte conclusão:

Não há futuro num mito sagrado. Por quê? Por nossa curiosidade.
Seja o que for que consideremos precioso, não podemos protegê-lo da nossa curiosidade porque, sendo quem somos, uma das coisas que consideramos preciosa é a verdade. O nosso amor pela verdade é sem dúvida um elemento central no sentido que damos à nossa vida. Em qualquer caso, a ideia de que possamos preservar o sentido da nossa vida à força de nos enganarmos é uma ideia mais pessimista, mais niilista do que eu.

Uma maneira de afastar o desconforto acerca desse mistério é mudar ligeiramente o assunto. Em vez de responder a pergunta pelo “por que” com uma resposta do tipo “porque” (o tipo de resposta que ela parece exigir), as pessoas substituem muitas vezes a pergunta “por quê?” pela pergunta “como?”, e tentam responder esta última contando uma história que não se encaixa.


Uma das curiosidade é mostrar-nos uma nova maneira de dar sentido às perguntas pelo “por que”, ideia de dissolver estes velhos enigmas. É preciso tempo para nos habituarmos à sua ideia, e ela é muitas vezes mal aplicada, mesmo pelos seus amigos mais dedicados.

Há quem busque um sistema explicativo estável que não anda às voltas nem entra numa espiral infinita de mistérios. Aparentemente, algumas pessoas preferem a regressão infinita de mistérios, mas hoje em dia o custo desta estratégia é proibitivo: deixar-se enganar. Podemos enganar a nós próprios, ou deixar essa tarefa a outras pessoas. No entanto, não há uma forma intelectualmente defensável de reconstruir as poderosas barreiras da compreensão de toda a diversidade do ser humano.

O melhor é deixarmos o espaço livre para que, mesmo diante de inexistência de perguntas, se possa falar além das palavras.


Deixe-os livres..


=)


domingo, 24 de outubro de 2010

O risco da exposição. É real?


São várias camadas. Decomponha o seu corpo. Agora veja o quão simples e quanto harmônicos somos. A resposta do segredo do nosso sistema não é dado, é conquistado pela experiência. Os nossos olhos não dizem a resposta.

Agora decomponha sua alma. Agora veja o quão simples e quanto harmônicos somos. A resposta do segredo do nosso sistema não nos é dado, mas foi codificado por nós mesmo. Os nossos olhos escondem a resposta.


Há quem prefere expor o corpo a ter que expor a sua composição.
Eu sou feito de nada e ao nada retornarei.
O risco da exposição é proporcional à fonte do receio.
Até onde este risco é real?

O preço



Existe um escala. Do menor grau ao maior.
Assim como o complexo é composto de simplicidade
Os opostos não pressupõem que são segregados
Muitas vezes andam de mãos dadas.


Assim,
O altruísmo muitas vezes é revestido de razões egoístas que buscam nada mais do que uma autopromoção do ego. Quantas vezes você já desconstituiu seu ego durante sua longa vida?
Eu nem cito os fatores de autoproteção, defesa, socialização..mas somente sobre um enfoque objetivo. Há quem diga que se o ser humano fosse capaz de realizar tal proeza, não agiria de acordo com os limites de sua própria natureza.

É um tanto contraditório. Isto porque utilizamos e paralizamos tudo em nossa volta para a consecução dos nossos objetivos, e isto inclui os nossos colegas humanos. Se alter é um instrumento para o próximo degrau, será que não somos um instrumento de alguém do degrau que passou?

E aí eu pergunto. Existem limites?

domingo, 17 de outubro de 2010

Isto não é a realidade

(Obra de Magritte).


Eu acreditava em mentiras. Acreditava que fechar os olhos escondia o que não queria ver.
Percebo que não existem mentiras e fechar os olhos não nos privam da visão, ao contrário, aguça-se ainda mais os sentidos.
Não existem mentiras assim como não existem verdades. As mentiras para quem as profere, nada passa do que uma das verdades que gostaria de acreditar, e até acredita. As mentiras para quem as ouve, nada passa do que verdades passageiras que não lhe mudam o conteúdo.
O essencial não é o termo Mentiras ou Verdades. Termos não existem. Discussões sobre nomenclatura nada passam que uma divagação metalinguística vã. No entanto, a significância é mesma, pois a verdade ou a mentira coexistem a depender do ângulo de quem as ouve ou as profere.

C' est ne pas un pipe



Pão de forma (e conteúdo) : Fome de viver


Nervoso e inquieto, o homem não sossegava um só instante. Parecia saber da brevidade de sua passagem pelo mundo. Desde cedo mostrou-se decidido a queimar da maneira mais intensa a breve chama de sua existência. Renasceu. No entanto, não se renasce para adquirir um novo corpo. Neste caso, renascia-se para o conhecimento de um novo mundo. O corpo e toda a sua carga genética permaneceram intactas. O que era perecível e até algumas coisas que se achavam fortes, perderam as máscaras no caminho, mostrando sua verdadeira face.Tardiamente, por sinal, pois em segundos apodreceram ao chão.

Para sua infelicidade, o novo mundo possuía a mesma aparência do antigo. Num primeiro momento, a única roupagem nova que se via era a sua. As antigas roupas pereceram no caminho, deixando no corpo uma vestimenta que ate então era desconhecida pelos novos habitantes.

Sua roupa era frágil. Para os detalhista, revelavam suas intimidades. Para os fúteis, revelavam o incompreensível. Para os sem princípios, revelavam o que nunca iriam alcançar. O que era unânime, era que aquela nova vestimenta chamava atençao para um conteúdo diferente.
Não havia bolsos, não havia zipper, só precisava de alguns ajustes, que o tempo acertaria.

E lá ia ele renascer para o mundo, mas com a coragem de abandonar suas velhas vestimentas, e assumir seu único corpo, nu . Sua forma já estava definida, bastava-lhe encontrar alimento que saciasse a fome de não ser mais um mascarado.

quarta-feira, 6 de outubro de 2010

Autoritarismo dos valores


Se pudéssemos visualizar as raízes dos impulsos dos quais nascem as mais sublimes doutrinas morais, veríamos um monstruoso egocentrismo. Na frondosa árvore que nasce desse egocentrismo, está a idealização de si mesmo, a transformação de sua personalidade e de seus gostos pessoais em princípios superiores. Em todo caso, se o fizer com bastante encanto, talvez conseguirá seduzir um pequeno rebanho no qual poderá observar várias imitações de si próprio.

Se, no fundo, a verdade subjetiva é inexistente, então que cada qual manifeste coragem de ser si mesmo e de criar seu próprio caminho em função dos valores que julgar mais elevados. Isso é tudo. Mas poderíamos, aqui, sugerir um critério que talvez soe bastante interessante aos mais afirmativos: o fraco tende a colocar a autoridade dos valores fora de si mesmo; o forte faz exatamente o oposto.

André Díspore Cancian

segunda-feira, 4 de outubro de 2010

Eu só nasço hoje.





Nasci ontem. Minha vida, no entanto, é efêmera. Sobrevivo da intensidade de momentos que valem por toda minha vida, apesar que para você não passe de alguns segundos, querido gigante. Tomei a ousadia de te chamar de gigante. Eu me aposso do seu quintal durante toda a minha existência e você nem nota pelo quê vivi. No meu entender, somente um gigante, na sua imensa importância de contabilizar seu prolongamento melímetrico, teria a audácia fundamentada de não perceber os inquilinos do seu próprio quintal.


Equilibro-me no fôlego de dois ou três segundos suspensos no tempo entre a sua respiração. É que eu não gosto de alardar minha presença.

Dizem que já nasço preso e carrego o peso da minha própria casa nas costas. Mal sabem eles que vocês gigantes, experimentam a liberdade no nascimento, e depois disto nunca mais a saboreiam. Como se a liberdade fosse uma espécie de cicuta, que a audácia de seu sabor fosse capaz de degradar cada pequena lanterna intelectual que permeia o seu ser. Ao contrário de você, eu sou renovável e livre do peso das memórias que você carrega nas costas.

Nasço e morro diariamente, sem vínculos com minha existência anterior.

Engraçado, para minha surpresa, você notou minha existência hoje de manhã.

Mas já é tarde. Em frações de segundo o seu ontem para mim não existirá. E logo mais eu não terei a responsabilidade de carregar o seu desleixo. A minha existência tem a intensidade de momentos que valem por toda minha vida, apesar que para você, não passe de alguns segundos, querido gigante.



domingo, 3 de outubro de 2010

Você já olhou sua casa hoje?




Às vezes, ninguém entendia quando eu quis dormir no "quintal", ao invés do convencional "quarto". Para mim, quintal sempre foi a parte mais atraente da "casa". Onde mais poderíamos guardar os pedaços da praia que propositalmente roubamos nas noites de lua cheia? onde mais podería cantar minha canção iluminada de sol, soltando os panos sobre os mastros no ar, com espaço para soltar os tigres e os leões? exatamente , lá, nos quintais. No entanto, as pessoas na sala de jantar são ocupadas em nascer e morrer. Mal sabem elas que ninguém nasce de uma vez e não se morre subitamente. Ao menos poderia haver silencio. Não que eu goste da sala de estar, mas aí reside uma questão muito interessante:

Se o silencio é fonte de sabedoria, é mais sábio ser hipócrita do que expor seus pensamentos? Eu poderia até denominar que os hábitos da sala de estar são tolos, mas reconheço que hipócritas não são. Se a sala de estar silenciasse sua própria essência, ninguém saberia onde estaria situada dentro de "casa". Entende que o máximo que poderia acontecer é a repugnância dos moradores ou vizinhos.

O quintal, possui a fertilidade de ser infinito. Carrega o peso de ser o que quer que quisermos lhe atribuir, até levar em si um pedaço da praia que decidi que seria minha na noite de ontem.
Ele fica atrás, mas não é o último. É a atração mais sossegada da casa. Após o sonho do jardim, a fome da cozinha, a sinceridade da sala de estar e a dormência dos quartos..se chega ao lugar mais atrativo e sem forma definida. Para você pode ser até um abismo...

Se no próprio abismo, o homem é uma corda estendida entre o instinto e o Super-homem, uma corda por cima desse abismo, definitivamente eu prefiro ser uma catenária*. E ninguém me tira do quintal.
Do que adianta tecer as próprias metas, se o caminho que devemos percorrer se é comprado em fábricas. Pelo menos no quintal tenho a liberdade de roubar o que não é meu, e não é de ninguém. Posso roubar diariamente um grão de areia para um dia abrigar o oceano que há tempos planejo furtar sem que se note. Onde mais se não no quintal se teria a exata dimensão do que poderíamos vir a ser.

Engraçado, observo que nasceu uma casa de passarinho no meu quintal hoje de manhã.
continua...

* catenária: Uma força aplicada em um ponto qualquer da curva a divide igualmente por todo material.