domingo, 18 de dezembro de 2011

Recomeço

"
Vamos combinar que muitas vezes não há mistério algum, vilão algum, nenhuma influência sobrenatural, questão de sorte. A gente sabe que se tocar naquele fio desencapado é choque garantido, como da última vez, mas a gente toca. A gente sabe que certos adubos são infalíveis para fazer a nossa dor crescer, mas a gente aduba. A gente sabe os tons emocionais que desarmonizam a pintura da tela de cada dia, mas a gente escolhe exatamente esses para pintar, mesmo dispondo de outros tantos na nossa caixa de lápis de cor. A gente sabe a medida do tempero e a desmedida, como sabe o sabor resultante de cada uma. Por histórico, a gente sabe a resposta muito antes de refazer a pergunta, mas a gente refaz.

Vamos combinar que muitas vezes não há nada de tão imprevisível, de tão inimaginável, muito menos entrelinhas, muito menos mau-olhado. A gente sabe, por memória das andanças, para onde a estrada de certos gestos nos leva, mas a gente segue. A gente sabe no que dá mexer em casa de marimbondo, mas a gente mexe. A gente sabe que não vai receber o que espera, mas a gente oferta sempre pela penúltima vez. A gente sabe que algumas praias são traiçoeiras, que não sabemos sequer nadar direito, que o afogamento é a coisa mais provável de todas, mas a gente mergulha. A gente sabe que a realidade, por mais dura que seja, precisa ser encarada com os olhos mais abertos do mundo, mas a gente inventa todo jeito que pode para desviar o olhar.

Vamos combinar que muitas vezes não há segredo algum, inimigo algum, interrogação alguma, nenhuma entidade obsessora além da nossa autosabotagem. A gente sabe que esticar a corda costuma encolher o coração, mas a gente estica. A gente sabe que nos trechos de inverno é necessário se agasalhar, mas a gente se expõe à friagem. A gente sabe que não pode mudar ninguém, que só podemos promover mudanças na nossa própria vida, mas a gente age como se esquecesse completamente dessa percepção tão sincera. A gente lembra os lugares de dor mais aguda onde já esteve e como foi difícil sair deles, mas, diante de circunstâncias de cheiro familiar, a gente teima em não aceitar o óbvio, em não se render ao fluxo, em não respeitar o próprio cansaço.

Eu pensava em todas essas armadilhas enquanto caminhava na Lagoa, um dia de céu de cara amarrada, um tiquinho de sol muito lá longe, tudo bem parecido comigo naquela manhã. Eu me perguntei por que quando mais precisamos de nós mesmos, geralmente mais nos faltamos. Que estranha escolha é essa que faz a gente alimentar os abismos quando mais precisa valorizar as próprias asas. Como conseguimos gostar tanto dos outros e tão pouco de nós. Eu me perguntei quando, depois de tanto tempo na escola, eu realmente conseguirei aprender, na prática, que o amor começa em casa. Por que, tantas vezes, quando estou mais perto de mim, mais eu me afasto. Eu me perguntei se viver precisa, de fato, ser tão trabalhoso assim ou se é a gente que complica, e muito. Como conseguimos ser tão vulneráveis, ao mesmo tempo que tão fortes. Somos humanos, é claro, mas ser humano é ser divino também.

Eu não tenho muitas respostas e as que tenho são impermanentes, como os invernos, os dias de céu de cara amarrada, os lugares de dor, os abismos todos, o bom uso das asas, os fios desencapados, as medidas e as desmedidas. Tudo passa, o que queremos e o que não queremos que passe, a tristeza e o alívio coabitam no espaço desta certeza. Eu não tenho muitas respostas. O que eu tenho é fé. A lembrança de que as perguntas mudam. Um modo de acreditar que os tiquinhos de sol possam sorrir o suficiente para desarmar a sisudez nublada de alguns céus. E uma vontade bonita, toda minha, de crescer."

segunda-feira, 25 de julho de 2011

Inevitável


Ana aproveitava os carinhos do mundo
Os quatro elementos de tudo
Deitada diante do mar
Que apaixonado entregava as conchas mais belas
Tesouros de barcos e velas
Que o tempo não deixou voltar

Onde já se viu o mar apaixonado por uma menina?
Quem já conseguiu dominar o amor?
Por que é que o mar não se apaixona por uma lagoa?
Porque a gente nunca sabe de quem vai gostar

Ana e o mar... mar e Ana

Todo sopro que apaga uma chama
Reacende o que for pra ficar

segunda-feira, 23 de maio de 2011


Somos espelhos. Espelho que reflete a imagem de quem nos olha. Cada qual observa no outro nada mais do que aquilo que nega ver em si próprio. E isto nada tem a ver conosco, apenas somos reflexos dos olhos que nos observam.
E não me venham falar de responsabilidades por suas próprias projeções. Cada qual é responsável pelas suas projeções...

quarta-feira, 4 de maio de 2011

Nada de novo embaixo do sol

Frase motivação:

E se um dia ou uma noite um demônio se esgueirasse em tua mais solitária solidão e te dissesse: "Esta vida, assim como tu vives agora e como a viveste, terás de vivê-la ainda uma vez e ainda inúmeras vezes: e não haverá nela nada de novo, cada dor e cada prazer e cada pensamento e suspiro e tudo o que há de indivisivelmente pequeno e de grande em tua vida há de te retornar, e tudo na mesma ordem e sequência - e do mesmo modo esta aranha e este luar entre as árvores, e do mesmo modo este instante e eu próprio. A eterna ampulheta da existência será sempre virada outra vez - e tu com ela, poeirinha da poeira!". Não te lançarias ao chão e rangerias os dentes e amaldiçoarias o demônio que te falasses assim? Ou viveste alguma vez um instante descomunal, em que lhe responderías: "Tu és um deus e nunca ouvi nada mais divino!" Se esse pensamento adquirisse poder sobre ti, assim como tu és, ele te transformaria e talvez te triturasse: a pergunta diante de tudo e de cada coisa: "Quero isto ainda uma vez e inúmeras vezes?" pesaria como o mais pesado dos pesos sobre o teu agir! Ou, então, como terias de ficar de bem contigo e mesmo com a vida, para não desejar nada mais do que essa última, eterna confirmação e chancela?" NIETZSCHE, Friedrich. A Gaia Ciência.

Nietzsche safadinho, plagiou Salomão que já filosofava sobre isso há 3 mil anos atrás:
Amamos ou não amamos a vida? Se tudo retorna - o prazer, a dor, a angústia, a guerra, a paz, a grandeza, a pequenez — se tudo isso retorna, isto é um dom divino ou uma maldição? Amamos a vida a tal ponto de a querermos, mesmo que tivéssemos que vivê-la infinitas vezes sem fim? Sofrendo e gozando da mesma forma e com a mesma intensidade? Seríamos capazes de amar a vida que temos - a única vida que temos - a ponto de querer vivê-la tal e qual ela é, sem a menor alteração, infinitas vezes ao longo da eternidade? Temos tal amor ao nosso destino?
Eu:

Cada um de nós tem uma constante que baseia boa parte de nossa energia psíquica. Isto faz com que nos tornemos cíclicos e nos encontremos em um número limitados de fatos que se repetiram no passa, presente e repetirão no futuro.

O que aconteceria quando tomamos a ousadia de modificar a nossa constante? vivemos sem limitações, ao menos previsíveis.


terça-feira, 3 de maio de 2011

Seria eu uma antiga alma poeta presa nos pensamentos de filósofos póstumos?


Frase de motivação:

Deus está morto! Deus permanece morto! E quem o matou fomos nós! Como haveremos de nos consolar, nós os algozes dos algozes? O que o mundo possuiu, até agora, de mais sagrado e mais poderoso sucumbiu exangue aos golpes das nossas lâminas. Quem nos limpará desse sangue? Qual a água que nos lavará? Que solenidades de desagravo, que jogos sagrados haveremos de inventar? A grandiosidade deste acto não será demasiada para nós? NIETZSCHE, Friedrich. A Gaia Ciência, §125.

Minha interpretação sobre o pensamento de Nietzsche:

Para mim, Deus falecera ofuscado pela ignorância do homem. De fato, se fosse uma mera afirmação ateísta, seria mais fácil ter afirmado que Deus nunca existira. Portanto, entendo que Nietzsche quis revelar muito mais que uma simples negação de sua existência. Divido seu significado em duas perspectiva:

* Objetiva : Os valores morais e religiosos são utópicos. São ditos lendários que nunca são respeitados, a começar pelos seus maiores difusores. A humanidade caminha para a ausência de valores. Como o estimulo do homem é alcançar o poder, inclusive o poder sobre sua vida, a morte de Deus é de um lado uma ousadia para que nos tornemos donos de nós mesmos, e de outro lado é o nosso fim, pois a ausência de regras morais trará consequências "demasiadas para nós". Pois, se cada um for governado somente pelo seu ímpeto, cada ser humano seria, na verdade, um conjunto próprio de regras que colidiriam, invariavelmente, com os outros. Mesmo quando a regra é não haver regra, ninguém duvida que nos sujeitaremos sempre à Regra da Ação e Reação.

* Subjetiva : Significa que os encargos dos homens devem pertencer aos homens. E a crença humana é ilusória. Como a morte pressupõe uma vida anterior, o assassinato de Deus seria o maior marco de sua vida, criatura que se volta contra o criador em busca de liberdade. A ausência de Deus, confortaria a presença demasiada de si mesmo.

Assim, a morte de Deus abriria caminho para novas possibilidades humanas. Os homens, não mais procurando uma realidade sobrenatural, poderiam começar a reconhecer o valor em si mesmo, ou a sua ausência de valor, de acordo com a carga moral de cada um. Seria então um valor sem regras pré-estabelecidas. Assumir a morte de Deus seria livrar-se do peso do passado e assumir a liberdade, tornando-nos Nós mesmos os nossos deuses.





segunda-feira, 2 de maio de 2011





Ouse, ouse... ouse tudo!!Não tenha necessidade de nada!
Não tente adequar sua vida a modelos, nem queira você mesmo ser um modelo para ninguém. Acredite: a vida lhe dará poucos presentes. Se você quer uma vida, aprenda a roubá-la!
Ouse, ouse tudo! Seja na vida o que você é, aconteça o que acontecer. Não defenda nenhum princípio, mas algo de bem mais maravilhoso: algo que está em nós e que queima como o fogo da vida!
Qual o seu preço? qual o seu preço hoje?
Quanto mais claro, mas clara a resposta da submissão alheia ao seu valor. Se aquém ou além do que podem bancar.
Caso não estejam dispostos. Apenas lamente o fato de não estarem prontos para o que tens a oferecer.


quinta-feira, 17 de fevereiro de 2011

domingo, 12 de dezembro de 2010

A minha maior verdade

Espero que chegue o tempo em que nem o homem, nem a mulher sejam tiranizados pelas fraquezas mútuas. Sonho com um amor que seja mais do que duas pessoas ansiando para possuir uma à outra..... Sonho com um amor em que duas pessoas compartilham uma paixão de buscar juntas uma verdade mais elevada. Talvez não devesse chamá-lo de amor. Talvez seu nome real seja amizade.

Friedrich Nietzsche

sexta-feira, 3 de dezembro de 2010

Amizade e/é querer bem





Eu nunca fiz amigos tentando ser interessante. Todos os amigos mais íntimos que fiz foi porque me interessei verdadeiramente por eles. Me interessei pelo que doía, pelo que o fazia gargalhar, pela forma como banalizava histórias tristes, pelo jeito com que dramatizava fatos aparentemente banais... E principalmente pela vontade de acrescentar
. Todo mundo quando descobre certa receptividade no outro abre seu coração com tamanha generosidade, que fica difícil não fazer o mesmo. Porque a escolha é sempre nossa.
É um espaço seguro antes da queda, como se sempre houvesse uma chance de sermos melhor e querer torná-los melhores. ^^

Porém, sobretudo, deixando-os livres...


terça-feira, 30 de novembro de 2010

Caráter


Percebo agora o quão difícil, ou melhor, a semi-impossibilidade de se mudar o caráter. Entendo-o, agora, como se fosse um norte da fonte de energia psíquica. Isto porque qualquer alteração da direção desse Norte pode desestruturar tudo que foi construído. Não ter coragem de se erguer de maneira digna, soa até hilário quando as pilastras que os mantêm em pé são feitas de palha. Podendo desmoronar com qualquer brisa...


domingo, 28 de novembro de 2010

O inverno de Anna

A primeira..
pensando nos meus personagens favoritos
e na minha forma de vê-los
começo a dissertar sobre eles..
Iniciando-se pela que menos gosto

Anna



Parece-me um ser anestesiado. Se personagem tivesse passado, eu diria que Anna teve muitas decepções, a começar com a infância. Desde o começo ela se demonstra apática, como quem tem preguiça de viver e se conforma com qualquer coisa que aparecer na sua vida, embora nunca esteja satisfeita.

É até contraditório e interessante falar que ela nunca está satisfeita, já que ela dificilmente expressa realmente o que sente. No entanto, é perceptível a sua falta de paz . Ela age como sanguessuga do que aparecer na sua frente para trazer dinamismo ao seu vazio e tentar se livrar de sua inquietude. Porém, ela sabe o fim que isto sempre a causa: solidão.

É um ser suspenso no ar que se agarra em qualquer nuvem que passe, e sabendo que nuvens não são eternas, utiliza-as como um meio de transporte e nunca como um aposento. Anna não tem paz e já não sente mais a dor da frustação de sua vida.

Eu diria que seu vazio vem da construção do seu ser, por isso digo que viria de sua infância. Alguma grande decepção ou descuido na infância que a fez se aprisionar e se fechar para o que lhe fosse externo, como meio de defesa e manutenção de sua sanidade.

Isto foi se transformando em um vazio, o qual sempre crescia à medida que tentava preenchê-lo com pessoas. Anna não visita lugares, visita pessoas na tentativa de preencher este vazio. Como se fosse um ciclo de carência ( Carência para mim é a busca incessante de outros para suprir aquilo que não se tem coragem de encarar) .

É justamente por isso que Anna aparenta ser muito madura,como eu disse.."aparenta". Esta sua pseudo-maturidade ocorre pela sua apatia pela vida, como quem já soubesse o que fosse ocorrer, e como o resultado é sempre o mesmo, ela já não se importa mais porque já perdeu (ou nunca teve) a vontade de crescer/mudar.

Exatamente isto, por não ter tido coragem de parar de estar encolhida, Anna, não passa de um personagem extremamente carente, que somatiza em seus relacionamentos o seu fracasso interno.

Ela poderia ter todos esses defeitos. Mas o que não suporto é sua conformação. Acredito que o ser humano, por sua própria essência, deve buscar superação, já que não somos seres definitivos. A não ser que queiramos estar presos sempre em nós mesmos, nos mesmos erros.

O que é incompleto nunca é completado pelos outros. Não existem metades de pessoas que se completam.Ninguém completa ninguém :p. Existem, sim, pessoas inteiras que se combinam, com empatias para a consecução de um fim. Este fim para mim é o crescimento mútuo. Até porque, Só cresce aquilo que é inteiro. O que é pedaço, sinceramente , só faz juntar-se aos outros cacos na tentativa de ser um pedaço maior. =p

Por isto, não gosto de Anna.

P.s: Interessante notar que o único que não caiu muito na dela foi seu ex-marido, por ter se cansado de conviver com 1/3 de um ser ( isto porque Anna não chega sequer a ser uma metade) e acabou trocando-a por outra.



terça-feira, 23 de novembro de 2010

Companhia, dogmas e solidão no liquidificador


Da forma mais clara :

Não há sensação melhor: sinto estar perdido e salvo ao mesmo tempo.


Fomos criados para sermos independentes. Passamos dias editando nosso plano de independência, mas às vezes parece-me perigoso quando este plano se torna extremo. Claro, não é uma construção de um dia, mas de todo um processo de crescimento/dogmas/crenças/etc. Senão, vejamos alguns "pensamentos hereditários" : 1) Nascemos sós e assim morreremos; 2) é preciso confiar desconfiando; 3) não existem amigos que estarão ao seu lado sem interesse ; 4) se quiser alguem em quem confiar, confie somente em si mesmo; 5) ..blablabla.

Cria-se a ideia de que quanto mais distante ou quanto mais armaduras você tiver, melhores serão os resultados, pois arriscar é atitude para os "desesperados/tolos/despreparados". Como estava dizendo, acabamos nos tornando individualistas como instinto de defesa, quando na verdade, muitas vezes não há ataque nenhum para "revidarmos". É uma guerra gratuita em que os únicos perdedores somos nós mesmos.

O individualismo extremado nos leva à solidão. A solidão é mais do que o sentimento de querer uma companhia ou querer realizar alguma atividade com outra pessoa não por que simplesmente se isola mas por que os seus sentimentos precisam de algo novo que as trasforme (wikipedia). a) Quantas vezes temos a companhia de várias pessoas e ainda assim mantemos a sensação de solidão? Não há sensação melhor do que quando abrimos o corpo e coração para o mundo. Claro, corremos o risco de sermos traídos, enganados, etc. Mas ainda assim vale a pena, por várias razões. Digo apenas duas. 1. O peso da culpa, da impotência, da limitação e da pobreza de espírito tem um preço que o meu espírito não consegue pagar. É mais fácil cair e levantar, do que carregar este peso no corpo e na alma. É mais fácil andar com a cara limpa, sujar e lavar novamente, do que andar pintado e sentir a dor da mistura da pintura no corpo do "ser real". 2. As sensações são livres; os caminhos são livres..os sentidos são livres..você já olhou pro mundo com o coração aberto? para o mar? ..nem falo de outras sensações corpóreas como o abraço despreocupado se o outro está munido de alguma arma ou pronto para o ataque quando for estender o braço.

b) Mas também, Quantas vezes estamos sós e ainda assim mantemos a sensação de companhia?
Existem pessoas que mesmo que não morem na sua casa, transmitem a sensação de companhia. Companhia não é sensação física. Há pessoas que apesar de estarem ao lado, a única sensaçao que nos passa é a corpórea. Há pessoas que estranhamente te acompanham em silêncio e até ocupam um pedacinho de você. Isto acontece quando menos esperamos, mas nunca quando estamos fechados. Pois ao selecionar tanto o que deve ou não entrar pela armadura, acabamos perdendo a mágica, aquela sensação do simples. E nada se compara à sensação do que é simples.


=)

O mundo se abre para quem está aberto. Abrem-se as portas e mais um céu pra os nossos dons... Quem ganha, mesmo, somos nós.

sábado, 20 de novembro de 2010

Maturidade x Erros : uma luta sem campeões, a não ser a amizade


Várias vezes, a maior parte de nós deseja tomar uma atitude diferente da que geralmente toma em muitas situações da vida. Nem sempre, no entanto, as coisas saem como planejado.

Maturidade reflete controle impreciso sobre si mesmo. Mas quem dirá que não se trata de um hábito de reações naturais, em que o que antes era temeroso ou estranho, passa a não importar mais. Não se trata só de sinônimo da vida adulta, mesmo porque isso pode significar muitas e muitas coisas diferentes.

Acreditamos em verdades. Mas ao pensar que se trata de uma questão aberta, em que muitos profetizam qual o caminho a ser seguido, taxando-o de"certo ou errado", como se houvesse fórmula universal perfeita para todos os humanos, facilmente veremos que "a tal verdade" não existe. Ouso em dizer que não existe sequer este certo e errado, e imagino que agora vc deve estar criando um pensamento de "o que acabei de ler está certo/errado". Pois é, não é fácil nos distanciar do julgamento.

Sinceramente, a ausência de regras é muito atraente. Pessoas que possuem uma lógica própria e não simplesmente aquela estampada em livros de psicologia. O ser humano é diversidade. As pessoas tendem a distanciar do diferente por receio de que o "desconhecido" venha a dar um bote quando menos esperar.

Ontem, disseram-me que percebemos que gostamos de alguém, não por suas qualidades, mas por seus defeitos. O pior é que isto não é insano. Senão, vejamos: existem certas características que somos extremamente intolerantes, mas sempre existirá aquela(s) pessoa(s) que tem tantos defeitos quanto você, mas isto não se torna o cerne do relacionamento, não se trata de ser apenas suportável, mas, simplesmente, você tem paciência (de entender ou seja lá o quê) e principalmente existe a sintonia de trocas . Sintonia, pela necessidade de algo compatível, e troca, pela necessidade de crescimento mútuo. Aquilo que não lhe acrescenta e não permite que você acrescente, não merece que lhe façamos parte = Reunindo todas essas característica, dá-se o que eu chamo de amizade, que por sinal é a base de todos os tipos de relacionamento.

A lógica da vida é essa simplicidade de permitir agir de acordo com seus princípios. Até porque, na real, não existe conceito absoluto, somos e sempre seremos uma obra interminável, em constante construção. Então, nos permitamos errar, sem essa presunção de perfeição, até porque, se o objetivo é alcançar a perfeição, certamente, a natureza humana não seria o bioma mais adequado para sua consecução . ;)*


ficou maior que imaginava, mas vai assim mesmo ^^.

terça-feira, 16 de novembro de 2010

Xeque-Mate


Sejamos Francos.

Se sinceridade for sinal de fraqueza,
Eu prefiro ser um fraco
A me esconder na fortaleza da mentira
ou da simulação.

Jogo limpo.

segunda-feira, 15 de novembro de 2010

No limiar da potência



A autocrítica e a severidade para consigo mesmo funcionam como uma ferramenta para extrairmos de nós mesmos todo o potencial possível. A tensão interna precisa estar sempre no limiar entre a potência extrema e a autodestruição. Os espíritos apenas crescem sob tensão, quando são forçados a isso – fazer de seu próprio espírito um campo de batalha é o caminho para o desenvolvimento de sua potência plena.

De certo não se trata do modo mais confortável de se viver, mas desde quando paz e conforto significam felicidade?

Cada um tem sua felicidade onde a encontra, e isso, para alguns, significa uma constante guerra interna na busca da auto-superação. A tensão, a inquietação, a angústia, o sofrimento são trampolins para nosso crescimento interior, são grandes molas propulsoras da potência humana:

"increscunt animi, virescit volnere virtus"

(Os espíritos crescem e a virtude floresce, à medida que são feridos).


André Cancian

quinta-feira, 11 de novembro de 2010

terça-feira, 9 de novembro de 2010

Clarice


Perdi alguma coisa que me era essencial, e que já não me é mais. Não me é necessária, assim como se eu tivesse perdido uma terceira perna que até então me impossibilitava de andar, mas que fazia de mim um tripé estável. Essa terceira perna eu perdi. E voltei a ser uma pessoa que nunca fui. Voltei a ter o que nunca tive: apenas as duas pernas. Sei que somente com duas pernas é que posso caminhar. Mas a ausência inútil da terceira me faz falta e me assusta, era ela que fazia de mim uma coisa encontrável por mim mesma, e sem sequer precisar me procurar.

É difícil perder-se. É tão difícil que provavelmente arrumarei depressa um modo de me achar, mesmo que achar-me seja de novo a mentira de que vivo. Até agora, achar-me era já ter uma idéia de pessoa e nela me engastar: nessa pessoa organizada eu me encarnava, e nem mesmo sentia o grande esforço de construção que era viver. A idéia que eu fazia de pessoa vinha de minha terceira perna, daquela que me plantava no chão.

Se tiver coragem, eu me deixarei continuar perdida. Mas tenho medo do que é novo e tenho medo de viver o que não entendo – quero sempre ter a garantia de pelo menos estar pensando que entendo, não sei me entregar à desorganização.

Como é que se explica que o meu maior medo seja exatamente em relação: a ser? E no entanto, não há outro caminho.

Começo



Há um tempo em que é preciso abandonar as roupas usadas, que já tem a forma do nosso corpo, e esquecer os nossos caminhos, que nos levam sempre aos mesmos lugares. É o tempo da travessia: e, se não ousarmos fazê-la, teremos ficado, para sempre, à margem de nós mesmos.

segunda-feira, 8 de novembro de 2010

Pagando para ver


“Acertei o caminho não porque segui as setas, mas porque desrespeitei todas as placas de aviso”. Achei curioso eu usar essa metáfora sem nem ao certo saber o que queria te dizer com isto. Perceba quanta falamos para o outro, querendo dizer na verdade para você mesmo. Porque eu jamais chegaria aonde cheguei se só andasse em linha reta. Tive que voltar atrás, andar em círculos, perder dias, perder o rumo, perder a paciência e me exaurir em tentativas aparentemente inúteis pra encontrar um quase endereço, uma provável ponte: a entrada do encontro. Você tão ocupado com seus mapas, tão equipado com sua bússola, demorou tanto, fez sinais de fumaça e não veio. Você simplesmente não veio. Aprendi a intuir caminhos certos, a confiar nos passos, a desconfiar dos atalhos. Porque eu estava do outro lado e só. Mas caminhava. E você estava absolutamente equipado com seu peso. E impedido de andar por seus medos.


(Clarice Lispector)

sexta-feira, 5 de novembro de 2010

Minhas sinfonias são inéditas e próprias do meu ser



O instinto musical em mim é compulsório. Meus anseios de liberdade na música se manifestam.A liberdade total. Você, desculpe, eu não tomo mais uísques por causa de minha voracidade, tenho é que beber música porque ela locupleta os grandes vazios da alma. Ou pelo menos impede a embriaguez súbita.
A música me oferece, de volta da praia, um mundo insuspeitado de ampla liberdade – as notas são todas disponíveis e abrem os caminhos à noção de que tudo era lícito, e que se poderia ir a qualquer lugar desde que fosse inteiro. Subitamente, a música oferece a sensação de que até um sonho inseguro era seguro.
Sabes, a flor nunca sabe que é flor e isto é o que a torna ainda mais fascinante. Assim somos nós.

quinta-feira, 4 de novembro de 2010

Tempo



Invernos,Impérios, Mistérios
Lembranças, Cobranças, Vinganças

Assim como a dor que fere o peito
Isso vai passar
Também

E todo o medo, o desespero e a alegria
E a tempestade, a falsidade, a calmaria
E os teus espinhos e o frio que eu sinto
Isso vai passar

Saudades, Vaidades Verdades
Coragem, Miragens e a imagem no espelho
Assim como a dor que fere o peito
Isso vai passar
Também

E os teus espinhos
E o frio que eu sinto
Isso vai passar
Também

Isso vai passar




terça-feira, 2 de novembro de 2010

Muitos mundos no mundo



Procuro, mas não enxergo o alvo
E calo meu silêncio pra ver
Se o mundo ainda existe
E insiste em ser o mesmo

Sempre eu disfarço
E não me encontro
Nunca soube qual a cor da dor
De ser mais um rosto que mente

Verdade, quem desvendou não me contou
Que o certo é o incerto que ficou
Meu mundo ainda gira e gira e gira
E volta

segunda-feira, 1 de novembro de 2010

Deixemo-nos ser Livres

Então eu estou aqui
E você também
Me permita ser o seu espelho esta noite
Como quem sabe no fundo
Que não há distância neste mundo
Pois somos todos uma só alma

Somos livres e não possuímos
as pessoas
Temos apenas o amor por elas
e nada mais

E é preciso ter coragem para
ser o que somos sustentar
uma chama no corpo sem deixar
a luz se apagar
É preciso recomeçar no caminho
que vai para dentro
vencendo o medo imaginado
assegurar-se no inesperado
confiando no invisível
desprezando o perecível
na busca de si mesmo

Ser o capitão da nau
no mais terrível vendaval
na conquista de um novo mundo
mergulhar bem fundo
para encontrar nosso ser real
E rir pois tudo é brincadeira
Que cada drama é só nosso
modo de ver

A vida só está nos mostrando
Aquilo que estamos criando
Com nosso poder de crer

Luís Antônio Gasparetto

O mito da Caverna de Platão: Versão de Maurício de Souza


Platão havia escrito um conto intitulado de "a caverna" (na obra " República"). Se tratava de uma caverna subterrânea onde há gerações seres humanos estão aprisionados. Suas pernas e seus pescoços estão algemados de tal modo que são forçados a permanecer sempre no mesmo lugar e a olhar apenas para a frente, não podendo girar a cabeça nem para trás nem para os lados. A entrada da caverna permite que alguma luz exterior ali penetre, de modo que os prisioneiros enxergam na parede do fundo da caverna apenas as sombras do mundo exterior . Como jamais viram outra coisa, os prisioneiros imaginam que as sombras vistas são as próprias coisas. Ou seja, não podem saber que o que vêem são sombras, nem podem saber que há outros seres humanos reais fora da caverna. Também não podem saber que enxergam porque há luz no exterior e não como pensam que a verdade é que toda a luminosidade possível é a que reina na caverna.
Que aconteceria, indaga Platão, se alguém libertasse os prisioneiros? Platão falava que quem é acostumado com a escuridão, quando se depara com a luminosidade em um primeiro momento se torna completamente cego, ofuscado por tamanha claridade. É uma extraordinária metáfora sobre a vida. Mas não é só. O que aconteceria se este priosioneiro, que conheceu "a verdade" (o mundo exterior), regressasse à caverna e contasse aos outros o que viu? certamente os demais prisioneiros zombariam dele, não acreditariam em suas palavras e, se não conseguissem silenciá-lo, tentariam fazê-lo espancando-o e, se mesmo assim, ele teimasse em afirmar o que viu e os convidasse a sair da caverna, certamente acabariam por matá-lo.
É uma belíssima mensagem, digna de reflexão. Segue a ilustração de Maurício de Souza sobre o mito da caverna de Platão.







O que é a caverna? O mundo em que vivemos.
Que são as sombras ? As coisas materiais e sensoriais, pois o significado das coisas raramente está na sua aparência.
Quem é o prisioneiro que se liberta e sai da caverna? Aquele que questiona.
O que é a luz exterior do sol? A luz da verdade.
O que é o mundo exterior? O mundo das idéias verdadeiras ou da verdadeira realidade.
Por que os prisioneiros zombam, espancam e matam o filósofo (Platão está se referindo à condenação de Sócrates à morte pela assembléia ateniense?) Porque imaginam que o mundo das aparências é o mundo real e o único verdadeiro (CHAUI, Marilena. Convite a filosofia. São Paulo: Editora Ática, 1999. p. 41).

=)

quinta-feira, 28 de outubro de 2010

Fugindo




O pouco que os animais, inclusive os mais desenvolvidos, têm que comunicar uns aos outros pode ser transmitido sem o concurso da palavra articulada. Nenhum animal em estado selvagem sente-se prejudicado por sua incapacidade de falar ou de compreender a linguagem humana. Mas a situação muda por completo quando observamos os animais domesticados, ou em particular, a relação entre humano e humano.


Seria possível compreender sem as palavras? Seriam as respostas imprescindíveis para o entendimento do ser? Ou As respostas sempre nos é dada quando aprendemos a perguntar ou interpretar?


Palavras são insuficientes, mas é o único meio que encontro para externalizar o que eu não sei. Mas, muitas vezes, as palavras sustentam um peso gigante sobre o que não se pode controlar, ainda que não seja intencional.

Eu não sei sonhar


No sim, existe um não
No céu, existe um chão
Vencer também traz perdas

Sentir pode doer
Sorrir pode esconder
Viver tem suas mortes


Aceito os meios
Pra alcançar o fim

Piso as duras pedras pra entrar no mar, Mas a calma da água ao beijar a minha sede pela paz
Me eleva

terça-feira, 26 de outubro de 2010

Ante o direito da crítica, o dever de superação.





Começa cada dia por dizer a ti próprio: hoje vou deparar com a intromissão,a ingratidão, a insolência, a deslealdade, a má-vontade e o egoísmo - todos devidos à ignorância por parte do ofensor sobre o que é o bem e o mal.


Mas,pela minha parte, já há muito percebi a natureza do bem e a sua nobreza, a natureza do mal e a sua mesquinhez, e também a natureza do próprio culpado, que é meu irmão (não no sentido físico, mas como meu semelhante, igualmente dotado de razão e de uma parcela do divino); portanto nenhuma destas coisas me ofende, porque ninguém pode envolver-me naquilo que é degradante, senão eu mesmo.


Nunca se protele o ato de questionamento quando se é jovem, nem canse o fazê-lo quando se é velho, pois que ninguém é jamais pouco maduro nem demasiado maduro para conquistar a saúde da alma. E quem diz que a hora de filosofar ainda não chegou ou já passou assemelha-se ao que diz que ainda não chegou ou já passou a hora de ser feliz.


Somos seres sedentos pelo crescimento, em constante e intermináveis mutações. Deixemo-nos vir, então, o tempo de mudanças...